A hipertensão pulmonar induzida por hipóxia é a maior causa de morbimortalidade em doenças cardíacas e respiratórias na altitude. Esta hipertensão está relacionada a vasoconstricção pulmonar e remodelamento vascular. Recentes descobertas relataram o papel do fator de indução de hipóxia (FIH), na regulação deste processo. Ele atuaria na oferta de oxigênio às células, principalmente na eritropoiese e nas funções do complexo cardiopulmonar. O FIH é principalmente regulado por degradação proteossomal que por sua vez é ferro-dependente, necessitando de ferro como co-fator de presença obrigatória. O laboratório do autor já obtivera sucesso em correlacionar a disponibilidade de ferro e a hipertensão pulmonar. Contudo estes experimentos foram limitados a indivíduos saudáveis, sendo seu papel em pacientes com doença hipertensiva hipoxêmica pulmonar ainda desconhecida.
O objetivo deste artigo foi investigar a interação entre ferro e hipóxia na hipertensão pulmonar após semanas de hipóxia a grandes altitudes.
O trabalho cursou com dois protocolos, ambos randomizados, duplo-cegos e placebos controlados.
O primeiro com moradores do nível do mar (NDM), utilizou voluntários sadios, moradores da cidade de Lima no Peru, que foram estudados em outro local a 4340 m de altitude numa pressão barométrica de 450 mm Hg, equivalente a 12% do oxigênio respirado ao nível do mar.
O desfecho primário foi o efeito da infusão de ferro na pressão sistólica de artéria pulmonar a (PSAP) avaliada por doppler ecocardiografia.
Foram analisados 22 pacientes em seus resultados de hematócrito, ferro sérico e dosagem de eritropoietina.
Depois os pacientes foram conduzidos para a altitude, tendo sido repetida estas medidas por uma semana.
No terceiro dia, os participantes do grupo não placebo receberam infusão de hidróxido de ferro.
Como resultado, em todos os participantes houve um aumento na PASP com a exposição à altitude de 24 mmHg ( 95% IC 12-17mmHg) a 39 mmHg ( 95%IC 23-25 mmHg) p<0,001).
A infusão de ferro reverteu muito do aumento da PASP caindo de valores de 37 mmHg( IC 34-40 mmHg) para 31 mmHg( 95% IC 29-33 mmHg.) comparado a um decréscimo de 2 mmHg no grupo placebo, de 40 mmHg (IC 95%, 35-45 mmHg para 38 mmHg 95%IC 32-44 mmHg.
Houve diferença significativa entre os dois grupos ( p=0,1).
No terceiro dia, o hematócrito subiu 2%, o nível de eritropoietina subiu 60mU/mL, a saturação de transferrina diminuiu em 10% e o nível de ferritina caiu 21 ng/ml.
O segundo protocolo, envolveu pacientes com doença crônica da montanha (DCM) no qual pacientes nativos na altitude, portadores desta doença, que se caracteriza por uma excessiva reposta eritropoiética à hipóxia da altitude com conseqüuente hipertensão pulmonar, foram estudados por um mês. Eles foram tratados com uma “sangria”, sendo o desfecho primário o estudo da depleção de ferro causado pela sangria na PASP.
No início do trabalho, cada participante apresentou aumento no hematócrito equivalente a uma concentração de hemoglobina acima de 21g/dL.
Após as medidas de base de ecocardiograma, eles foram submetidos a uma retirada de sangue isovolêmica (sangria) de 500ml cada em 4 dias consecutivos totalizando 2000 ml. As medidas do eco foram repetidas nos dias 5, 12 e 19; foram então submetidos os pacientes à infusão de Ferro em dois dias com 200mg/dia ou salina como placebo. Os grupos foram cruzados, posteriormente recebendo as infusões alternativas.
A sangria reduziu o hematócrito em 19% e aumentou o débito cardíaco em 10%. De uma maneira geral a PASP aumentou em 25% do início até as transfusões. Durante o período de cruzamento dos grupos não foi verificado efeito da reposição de Ferro sobre a PSAP.
A conclusão do trabalho demonstra que a hipertensão pulmonar hipóxica pode ser atenuada pela suplementação de Ferro e exacerbada pela depleção do mesmo.
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